Oficina DobraLivro – Encadernação em Dobraduras

Primeira Edição – Arcoverde – 15 a 19 abril 2024

A primeira edição da Oficina DobraLivro foi incrível! Durante cinco noites, nos encontramos na Biblioteca do Sesc para investigar possibilidades de inovação para a cadeia produtiva do livro e da leitura a partir das técnicas de dobraduras, com ênfase na de sanfona (ou acordeão). A dobra sanfona é tanto ancestral como tendência de futuro. É a primeira dobra realizada pelos monges budistas chineses inventores do papel séculos atrás, mas também fundamenta o Origami Científico.

Uma turma leal compareceu todas as noites à Biblioteca do Sesc Arcoverde para trocar ideias sobre o percurso histórico do papel e da encadernação, seus usos como suporte para a literatura e as artes visuais. As Cartoneiras do Esperançar, minhas companheiras de labuta literária foram representadas pelas maravilhosas Dora Gomes, Gaby Oliveira e Déa Lúcia. Nosso querido Miro Carvalho e seus alunos da EJA do Sesc – Bete, Uemerson e Ana – também estiveram firmes na presença e produção. Para amarrar o número do infinito, a escritora e professora Márcia Moura esteve conosco, brindando cada encontro com sua produção poética de repente.

Numa noite de abril
com Evinha vim dobrar
fazer as práticas dos livros
e origami apreciar
que produção alternativa
para a escrita valorizar.

Uma viagem fantástica
pela história do papel
dobrar e montar sanfona
faltou música no papel.
Eita, que coisa boa!
Tou girando em carrossel!

No primeiro encontro, conversamos sobre a história do papel e a criação das dobraduras, os primeiros modelos de Origami e sua ligação com atos cerimoniais, como casamentos e funerais, amuletos e presentes. Em seguida, dobramos e cortamos alguns livrinhos a partir de uma só folha e praticamos outro modelo cheio de bolsinhos.

A conversa do segundo encontro foi sobre o esforço feito pelo seres humanos em busca de suportes cada vez mais adequados às demandas que iam surgindo ao longo da história. A prática foi dedicada a dois modelos simples e eficientes realizados a partir da dobra sanfona e um inspirado da encadernação piano, sendo um deles só com cortes e outro com pequena área de colagem. Lá fora, chovia horrores, mas cá dentro o chá de Dona Maria aquecia nossos corações. Gratidão, Dorinha!

A terceira noite foi dedicada ao livro como suporte para as artes visuais, com provocações a partir da projeção de obras de Augusto de Campos e Julio Plaza, Waltércio Caldas, Artur Barrio, Lygia Clark, Lygia Pape, Elida Tessler, Edith Derdyk e Louise Bourgeoise. Os versáteis livrinhos Blizzard foram a prática da noite, mas não pude escapar de mostrar como são dobrados os fofos livrinhos de Momotani.

Na última noite de oficina, voltamos ao livrinhos Blizzard e realizamos o Flag Book, ambos excelentes para a veiculação de imagens (gravuras, fotografias, etc.) e de textos curtos, sejam poemas, contos ou crônicas. Em seguida, tiramos dúvidas, refizemos alguns modelos e comemoramos com um bolo de banana absurdo, mimo de Márcia Moura.

Tudo pronto! Organizei, com a colaboração do bibliotecário Mário, uma exposição dos resultados com todos os livrinhos que aprendemos e passei a tarde recebendo crianças da Escola do Sesc. Elas adoraram mexer nos livros, entender as estruturas e imaginar como foram feitos. Esta não foi uma oficina pensada para crianças, porque exigia o uso de tesouras e estiletes afiados, mas pode ser repensada e adaptada a pessoas e outras faixas etárias e com necessidades especiais.

À noite, a turma da oficina chegou trazendo suas produções que se integraram à exposição. Miro Carvalho organizou a vinda de professores e alunos da EJA da Escola do Sesc e fizemos uma apresentação dos conteúdos estudados, com direito a interpretação em Libras por Fran Silva.

Gratidão imensa às pessoas envolvidas, especialmente a Fernando Ribamar pelo apoio afetivo-logístico, a Jéssika Betânia pelas suas lentes participativas, a Clara de Assis pela cobertura da última noite do projeto, à turminha leal, à gestão do Sesc Arcoverde pelo acolhimento ao projeto, à Secretaria de Cultura pela viabilização da Lei Paulo Gustavo no município.

Agora, vamos tentar circular com este projeto.

\o/

DobraLivro – oficina de Encadernação em Dobraduras

Entre os dias 15 e 18 de abril, a artista visual Eva Duarte vai mediar a Oficina DobraLivros – Encadernação em Dobraduras, na biblioteca do Sesc Arcoverde. Destinada à cadeia produtiva da literatura local e a professores de Línguas e Artes na educação básica, a ação conta com incentivo da Lei Paulo Gustavo municipal e apoio do Sesc Arcoverde. As inscrições são gratuitas, com reserva de 30% das 10 vagas para professores, e podem ser realizadas através do formulário https://forms.gle/j6dwGCoGDs2ahUFX8 até 8 de abril.

Durante os encontros, serão percorridos conteúdos relativos às histórias do papel e das dobraduras (Origami), do livro e da encadernação; à utilização do livro como suporte para a literatura e as artes visuais – livro de artista e livro-objeto. A cada encontro, serão realizadas práticas de diferentes técnicas de encadernação em dobraduras, cortes e encaixes, quase sem costura ou cola.

Tais saberes podem ser mobilizados para a autopublicação literária, como suporte para produções artísticas, desenvolvimento de produtos gráficos, apresentação de portfólios e criação de produtos artesanais, entre muitas outras aplicações. Porém, interessa especialmente atender ao movimento cartonero local, assim como editoras e escritores independentes.

No dia 19 de abril, haverá uma exposição de resultados na biblioteca do Sesc, com aula aberta ao público e acesso facilitado à comunidade surda por interpretação em Libras. Todas as atividades, técnicas e processos serão fotografados diariamente e publicadas no perfil no perfil do projeto no Instagram: @dobralivro. As postagens serão acompanhadas por texto alternativo a fim de promover acessibilidade a pessoas com deficiência visual.

O projeto surgiu a partir do convite de Flávio Oliveira, artista, gravurista e publicador independente baiano para a participação em um evento em Salvador. Devido a complicações da COVID-19, Flavão faleceu e não conseguimos realizá-la. Falecido em condições semelhantes, o ator Paulo Gustavo não imaginava quantas ideias iriam se concretizar em seu nome. Flavão e Paulo Gustavo, presentes!

SERVIÇO
Inscrições através do https://forms.gle/j6dwGCoGDs2ahUFX8
25 de março a 8 de abril
Divulgação dos selecionados para a Oficina
10 de abril

Oficina DobraLivros – Encadernação em Dobraduras
15 a 18 de abril, das 19 às 22h
Biblioteca do Sesc Arcoverde

Exposição DobraLivros
19 de abril, das 15 às 22h.
Biblioteca do Sesc Arcoverde
Aula aberta com interpretação em Libras às 19h

CONTATOS
Eva Duarte [81] 991738073
Instagram @dobralivro

Nada é Completo!

Wabi-sabi Parte 3

Manual de experimentação para peças em Origami

Tudo está em transformação!
Tudo é Metamorfose, movimento e criação, a partir de recursos finitos.

Quando uma peça de Origami nasce, ela ainda precisa ganhar significado. Muitas são as variáveis que influenciam nesse processo. Foi feita por quem? Quem presenteou, em que circunstância? De que material foi feita e há quanto tempo?
A história de um objeto o complementa, acrescenta em valor, força, emoção e sensações.

É na relação entre a forma simples e seu uso que se constrói a história de um objeto.

O tempo se registra pela transformação dos materiais, provocando rugas, fissuras, manchas, mudanças no tom e no brilho, nas cores. Podemos consertar o que se quebra e se rasga, preencher espaços erodidos, limpar, lixar, aplicar produtos que garantam alguma longevidade, mas chegará o dia em que o uso, mesmo como ornamento, será inviabilizado.

A fim de que a metamorfose das peças se dê em diálogo com a natureza, o tipo de material está entre os principais preceitos do Wabi-sabi. Sua origem deve ser a mais próxima possível do estado natural, preferencialmente sem passar por processos industriais. Tais materiais são mais vulneráveis à ação da luz, da umidade, do toque, mas retornam à natureza com impacto menor, ajudam a alimentar a terra, integram o ciclo da vida.

No processo criativo artesanal, Wabi-sabi requer lentificação, atenção a detalhes, experimentos com materiais, técnicas e ferramentas. Há quem olhe para uma série de Kusudamas e veja todas iguais, mas a cada módulo há pequenas mudanças nos ângulos, redução nos vincos necessários, uma economia de gestos, um aprofundamento crescente no estado mental, graças à repetição.

No caso das nossas Dobrinhas, a cada série de um mesmo modelo, algo se revê, se refaz e pode mudar radicalmente.

Para falar da incompletude, realizei uma Kusudama baseada em módulos Froebel (que já dobrei milhares de vezes e amo!) em materiais mais rústicos – papéis kraft e vegetal, fios de algodão –, acrescentando algo que venho estudando com alternativa à estampa: o bordado.

Adorei o resultado, mas o trabalho foi dobrado. Hehehe

Wabisabi:
Nada é Completo.
Nada é Perfeito.
Nada é Eterno.

#Wabisabi #Origami #Kusudama #FriedrichFroebel #Dobrinhas20Anos

Nada é Perfeito!

Wabi-sabi Parte 2

Manual de observação para peças em Origami

Eu sempre fui muito exigente! Mas, com minhas próprias produções, sejam elas em forma de texto, comida, dobrinhas, crochê…, sou a pessoa mais cricri do mundo! Devo admitir, porém, que minhas dobras nunca serão tão perfeitas quanto as de minhas amigas japas, que, ao invés de chupar chupeta já dobravam papéis. Que mãos, que precisão!!!

Minha sorte é que o Zen Budismo tem uma expressão que valoriza, entre outros aspectos, a imperfeição. Segundo o pensamento Wabi-sabi, a imperfeição não é um defeito, mas sim o efeito das nossas mãos sobre a peça em desenvolvimento.

Com o Origami, acontece algo semelhante ao desenho, pois cada pessoa cria um traço único, que reflete seu cuidado, suas condições materiais (se o espaço é adequado com boa fonte de luz, se o papel está bem cortado, se a mesa estava equilibrada), a força empregada, o tempo dedicado a cada dobra. Em uma oficina colaborativa, é bem possível reconhecer um módulo dobrado por cada pessoa e isso é lindo!

O clima também podem afetar a peça durante sua feitura a ponto de gerar o erro. E o erro pode levar a belezas incalculadas! Assim aconteceu quando nos contrataram para a realizar objetos de cenografia de grandes proporções e fizemos um protótipo em tamanho real, no qual estudamos possibilidades de deformação por conta do peso, da inércia e até do vento. Era uma peça que dobro há bem mais de uma década: a Sakuradama (Kusudama formada por flores de Sakura) de Toshikazu Kawazaki. No dia do show, que seria em outra cidade, saímos do Recife, seco e solar, rumo a Gravatá e sua umidade desconcertante. Nada fazia os módulos se aprumarem. Eles se recusavam a formar esferas. Desmoronaram. E viraram nuvens ou pipocas gigantes, irregulares, singulares. Foi uma puta aprendizagem!

Wabi-sabi é encontrar a beleza na falha, que pode nos levar a novos projetos, perspectivas e situações.

Wabisabi:
Nada é Perfeito.
Nada é Completo.
Nada é Eterno.

Ao longo desses tantos anos, dobrei muitas dessas Sakuradamas, com a proposta poética de pequenos ninhos de passarinhos e borboletas. Para esta postagem especial, fiz uma nova versão, com ninhos marinhos, peixinhos e anêmonas.

#Wabisabi #Origami #Kusudama #Sakuradama #ToshikazuKawazaki #Dobrinhas20Anos

A primeira Kusudama

Foi a Kusudama que me fez entender o dom da dádiva proporcionado pelo Origami. Kusudama vem de Kusuri, que significa remédio, e Tama, bola em japonês. Kusudama é bola de cura.

Antigamente, usavam-se bolas de papel cheias com ervas nas cabeceiras de pessoas doentes para que o aroma colaborasse na cura. Creio que a beleza das dobras modulares e o efeito das cores também ajuda na recuperação.

Com o tempo, as Kusudamas começaram a ser usadas para desejar boa sorte, boa festa, boa vida. Exemplares gigantes são usados em festivais de rua, como o Tanabata, mas também no início de campeonatos, abrindo-se em confetes e pedacinhos de papel brilhantes sobre os times.

A primeira Kusudama que aprendi a dobrar foi uma das mais difíceis do sistema solar, a Vênus. Para montar uma delas, é preciso dobrar 40 módulos (tem gente que prefere usar apenas 36, mas acho que não fica tão íntegra), costurá-los em saias de 10 peças e amarrá-los firmemente. O tais módulos, partem da base da flor, são dobrados normalmente, para serem desdobrados, virados do avesso e redobrados. É um trampo! Mas, é um lindo desafio.

Aprendi a Vênus com Helena e Estela e senti um universo se abrir diante de mim. Nunca mais vi o Origami da mesma forma. Era um jeito lindo demais de desejar o bem, um Reiki materializado, um presente mágico. Olhei para os buraquinhos dos módulos e imaginei cravinhos acomodados neles, um convite à canela, que logo se agregou à peça. Assim nasceu minha primeira criação: Gabriela, Cravo e Canela, morena e cheirosa que nem minha irmã Gabi. ❤

Na época (2007), criei uns kits com instruções e material necessário para que todo mundo pudesse aprender a dobrá-la.

Sempre tenho uma pronta por aqui.

😉

#Origami #Kusudama #Venus #Dobrinhas20anos

Nada é Eterno!

Wabi-sabi Parte 1

Manual de conservação para peças em Origami

Sabemos que nada é eterno e que precisamos respeitar o ciclo de vida de tudo o que nos cerca. Porém, várias vezes já tive que responder perguntas sobre a durabilidade do Origami e, em algumas delas precisei pensar em soluções mais duráveis. Tais soluções normalmente envolvem a mudança do material, substituindo-se o papel por tecido, acetato, etc., introduzindo-se reforços de entretela, ou aplicando-se vernizes e resinas. Temos uma certa experiência nessas soluções.

Mas, para uma origamista raiz, Origami é papel e ponto. Se for feito com tecido, fibras naturais, plástico, tem outros nomes. Mesmo montagens em forma de móbiles, painéis e colares já são transgressões.

Então, resolvi fazer um manual de conservação para quem ama Origamis, sabe que não são eternos, mas quer que durem o máximo possível. Atenção às dicas:

1) Nunca exponha a peça diretamente aos raios de sol e evite locais de alta luminosidade solar. Mesmo os papéis washi japoneses ou os importados cintilantes que utilizamos sofrem, suas cores desbotam e perdem a energia cromática.

2) Cuidado com a umidade. Em épocas mais chuvosas ou em locais mais próximos ao litoral e à Mata Atlântica, é fácil perceber uma mudança radical na textura dos papéis, que ficam mais moles e fofos, com dificuldade para a manutenção dos vincos. Nas peças prontas, a umidade pode desmanchar modelos modulares, afrouxando as uniões dos módulos e descaracterizando-as.

3) Mesmo amando o barulhinho dos guizos, é preciso proteger as peças do vento forte e direto, pois ele pode atingi-las com muita velocidade, empurrá-las em paredes e móveis próximos, deformando-as.

4) Bebês, crianças pequenas e gatos amam as cores e texturas dos Origamis, mas suas mãos e patinhas não têm muito traquejo para segurar as peças com delicadeza. É bem provável que um novo modelo surja dessa interação: uma irreplicável bola de papel. Hehehe

5) Os modelos de Kusudama vazados são os mais convidativos para insetos. As muriçocas, por exemplo, amam fazer cocô nelas. Quando o cocô é de um macho, é mais fácil de limpar, pois é fruto de uma dieta vegana, branco e seco. Já as fêmeas sugam sangue e seu cocô é escuro e pastoso, podendo manchar sua peça. Mosquiteiros para Dobrinhas? Devem existir.

Na casa do nosso amigo ❤ Fausto <3, lá no Serrote Preto (Buíque – PE), abelhas e marimbondos adotaram como espaços ideais para os seus ninhos as kusudamas que moram nos alpendres há mais de 2 anos. Para quem se interessa por meliponicultura (cultivo de abelhas nativas sem ferrão) é uma possibilidade esteticamente interessante, um desafio aprazível.

Wabisabi:

Nada é Eterno.

Nada é Perfeito.

Nada é Completo.

#wabisabi #origami

Foto: Fernando Ribamar.

20 anos de Dobrinhas!!!

Viva!!!

Uhuuu!!!

Em 2023, completo 20 anos de cotidiano marcado pela prática, pesquisa e dedicação ao Origami. É hora de comemorar, rever os caminhos já trilhados e projetar novas jornadas.

Neste momento, sento-me à mesa da sala de oficinas que estou organizando para receber quem quiser aprender, trocar ideias e fazer junto comigo minimundos dobradinhos.

Em breve, começarei a divulgar fotos da salinha, programação, valores e outros detalhes.

Uma ideia é conectar os temas da produção e das atividades aos ciclos da cultura popular, ao movimento das estrelas e planetas, às estações do ano aqui no Sertão (verão escaldante e frio da bunda bater palmas).

Outra, é atender a demandas de pessoas e grupos através de oficinas formatadas especialmente, como design de embalagens, encadernação, decoração de espaços, lembracinhas de casamento, batizado, etc.

Uma terceira é abrir para oficinas comemorativas – aniversários, chás alegres –, com limite de até 10 pessoas.

Também pretendo manter o atelier aberto à visitação em alguns horários durante a semana para um café, uma conversa e comercialização de produtos.

O Bordado e o Crochê, aplicados ou não ao Origami, também terão espaço nas oficinas e produtos.

Ao longo do ano, pretendo revisitar minhas produções, a fim de montar uma exposição celebrativa dos 20 anos no final.

Acho que vai ser lindo!

E vocês?

Cada dobra reflete uma escolha

Com uma folha de papel, é possível fazer infinitas coisas: escrever, desenhar, pintar, bordar, colar. Cada uma dessas atividades requer alguns materiais além do papel. A folha, para o Origami, basta. Ela é um convite à dobra.

Experimente deixar uma folha na mão de uma pessoa – sem celular – em uma fila, em um momento de espera. Em pouco tempo, a pessoa começa a enrolar o papel, dobrar as pontinhas, daqui a pouco, fez um barquinho, um avião, uma borboleta…

Não existem limites para os tipos de dobras, mesmo as mais orgânicas, sem medidas exatas para os ângulos e distâncias, são Origami (de 折り紙 oru=dobrar + kami=papel). Mas, como toda Arte, o Origami tem a sua academia, com criadores de modelos e de métodos, teóricos, filósofos, comunicadores, editores, etc. São essas pessoas apaixonadas que criam maneiras de registrar processos e de ensinar-aprender. Foi a partir de algumas convenções, cocriadas e difundidas pelo mestre Yoshizawa, que o Origami pôde se expandir mundialmente e ser revisto e reinventado geração após geração.

Uma dessas convenções são as dobras básicas, cujo número depende do autor, mas giram perto de uma dezena. Seus nomes são fáceis e se ligam à figura mais simples de se fazer a partir de cada uma: envelope, peixe, porta, casquinha de sorvete, flor…

A partir da dobra básica do pássaro, por exemplo, é possível fazer o tsuru, a garça que voa, o beija-flor, mas também cavalinho, tartaruga, flor e estrela. A dobra básica é como a genética, a família, a religião, a escola, que se esforçam para nos dar uma forma, mas das quais podemos escapar e nos transformar no que queremos ser. E podemos até mudar de ideia, voltando atrás alguns passos e optando por outras dobras até irmos de passarinho a cavalo, mas sabendo que os vincos ficarão marcados.

No momento que vivemos, é preciso termos muita clareza do que somos, do que queremos ser e expressar, com o que podemos contribuir para que haja futuro humano neste planetinha.

A dobra do pássaro ensina que gente nascida para brilhar pode até ser e se juntar com outras estrelas em forma de constelação, criando imagens abstratas, mandalas, kusudamas.

E, assim, seguiremos com Alegria e Esperança, além de muito cuidado com as ameaças contra nosso projeto de saúde, conhecimento, abundância, segurança e felicidade para todas as criaturas.

#origami #basicfolds #tsuru #kusudama #AkiraYoshizawa

Animagami : Origami de Animação

Quando a maravilhosa Odília Nunes me convidou pessoalmente, olhando bem na minha cara, para participar do Festival Chama Violeta, eu sabia que era uma honra grande demais, um reconhecimento sem par à minha trajetória desenvolvida até tão pouco tempo tão longe do Sertão. O Festival aconteceu nos dias 4 a 6 de novembro no Sítio Minadouro, Ingazeira, Sertão do Pajeú, PE. O tema era “Formas Animadas” e quem me conhece sabe o quanto amo inventar a partir de um mote.

Foto: Tronxo Filmes @tronxofilmes

Comecei a pesquisar possibilidades de aplicação do Origami às Artes Cênicas, pensando principalmente nos teatros de pequena escala, de objetos, de bonecos, de caixa e de sombra. Já imaginava que poderia ser usado como elementos de cena, objetos de decoração, acessórios ao figurino e em forma de máscaras. Além dessas, descobri a possibilidade da dobradura ser usada como caixa cênica em si, com o Livro Túnel.

Assim nasceu a oficina especialíssima “Animagami : Origami de Animação”, voltada para amantes, aprendizes e profissionais das Artes Cênicas, Palhaçaria e Audiovisual.

Durante a oficina, apresentei várias possibilidades de utilização das dobrinhas, destacando que poderiam ser feitas também em tecido, acetato, papel brilhante de café, tetrapak e pet, a fim de garantir a durabilidade das peças manipuláveis. Fizemos experiências com dobras de modelos simples e modulares, peças que se movem, giram, encaixam, pulam, voam, beijam.

Brincamos com modelos tradicionais, mas também assinados por Tomoko Fuse, Robert Lang e pela nossa amada Lena das Dobraduras, a maior contadora de histórias com Origami do Brasil, a quem muito agradeço.

Foi muito lindo ver mais de 30 pessoas aprendendo e ensinando, ajudando umas às outras, ficando felizes com o resultado dos seus esforços e fazendo seus pequenos objetos dobrados ganharem vida. Emocionante mesmo!

O Festival Chama Violeta é fruto do desejo de Odília Nunes de que as pessoas do seu território natal tivessem contato com as coisas que viu quando dali saiu para estudar. Desde o seu retorno ao Sítio Minadouro, vem convidando artistas para intercâmbios, residências, oficinas e para o Festival, que este ano chegou à sua quinta edição.

Bancado por doações de tempo, grana, comida e da energia física de 108 pessoas, Chama Violeta cria um microcosmo, universo revolucionário movido a amor, sabedoria e beleza, impacta vidas, gera perspectivas de futuro, prepara a revolução. O movimento é tão vigoroso que “Odília é um lugar”, como me disse Roger, que também chegou por lá escutando pelas estradas quando parava para se informar: Ah! É lá em Odília!

Continuo iluminada pela chama da resistência que brilha em nosso Festival!

Grata imensamente!

#FestivalChamaVioleta #Animagami #OrigamideAnimação #LivroTúnel #FormasAnimadas #TomokoFuse #RobertLang #LenadasDobraduras

Fotos da oficina: Fernando Ribamar